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A fofoca e o papel social do disse-me-disse na organização social humana.

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Está bem, todos concordamos que a fofoca é atualmente uma coisa realmente muito irritante, independente de qual grupo seja em que você tenha que conviver com ela. Mas mesmo a fofoca tem alguns outros sentidos que muitas vezes nos escapam.

Um ditado muito comum e também sábio nos diz que quando Pedro nos fala de Paulo, sabemos muito mais de Pedro do que propriamente de Paulo.

Quando o “amigo” Pedro nos fala do “pobre” Paulo temos uma ideia muito boa sobre o que este quer que pensemos sobre aquele, e naturalmente, a depender do que ele está buscando incutir no nosso julgamento a gente tem sim, para o bem ou para o mal,  uma visão bem mais intensa e complexa do ser humano que nos fala.

Mas nem sempre isso foi exatamente assim. A fofoca pode ter sido um dos pilares da construção do nosso modelo de grupo social ocidental. Como? Alguém sempre pode se perguntar. Simples! Podemos responder.

Num tempo em que os primeiros grupos humanos começam a se formar e a conviver em espaços delimitados fazia-se muito necessário saber em quem confiar, posto que as regras de convivência eram,  em sua maioria, mais tácitas do que acordadas. Então o referencial a respeito de um indivíduo dentro do grupo era basicamente o conjunto de informações que se tinha sobre ele: a partir de suas falas e, muitas vezes ainda com mais peso a partir das falas dos seus semelhantes.

Uma pessoa que se achega a um destes grupos primitivos certamente vai despertar muita curiosidade já que as comunidades bastante reduzidas corriam o perigo de desestabilização a partir de maus feitos de somente um indivíduo. Então a fofoca mostra sua força na formação da imagem desse novo indivíduo no grupo.

No entanto, nem sempre poderia ou deveria ter o sentido conotativo totalmente adverso que conhecemos atualmente como seu significado totalizante. Muitas vezes também a fofoca servia para formar juízos de valor favoráveis à “vítima” do falatório.

E sabemos que esta técnica de “marketing pessoal primitivo” já foi adotada como regra em sociedades auto proclamadas as mais evoluídas que tinham um verdadeiro arsenal técnico para implementar esta política de convivência. Se nos debruçarmos sobre uma obra literária do Romantismo teremos a justa ideia do que estamos propondo.

Todos nós já ouvimos falar em algum lugar de que alguém tinha uma carta de apresentação. Fofoca institucional. E, para além disso, a gente pode lembrar ainda de muitos costumes que andam caindo em desuso na nossa sociedade: recepções em casa, saraus, bailes de debutante, festas de noivado, e uma grande gama de assemelhados.

Pra que serviam se não justamente pra promover o encontro de fofoqueiros e a necessária produção das fofocas que determinariam quem seria quem naqueles grupos?

Naturalmente agora entendemos muito melhor sobre a fofoca como fenômeno social , porque avançamos muito nos estudos ditos sociais, e temos fontes muito gabaritadas que se especializam a fofocar sobre; desculpe, estudar a fofoca.

Até a psicanalise já nos disse que o hábito de “falar mal” de pessoas pode esconder também uma profunda mágoa que é desafogada, por assim dizer, no ato de vilipendiar a credibilidade “das inimigas”, mas também temos uma série de outros fatores que nos são facilmente identificáveis dentro das relações de grupo. Reveja mentalmente algumas das últimas conversas que você teve com seus grupos de interação e vai perceber claramente.

E, sim, concordamos que fofoca é um ato em si maléfico para as pessoas vítimas desta ferramenta de marketing pessoal da convivência social, mas queremos muito salientar que é possível simplesmente inverter a lógica desta dinâmica. Simples.

Que tal da próxima vez que você ouvir alguém “falando mal” de algum dos seus amigos você simplesmente rebater todas as “críticas” que lhe forem feitas com elogios igualmente proporcionais?

E, que tal se, ao invés de criticar por criticar as pessoas você conseguisse, mesmo que a título de exercício de curiosidade, nesta semana procurar ou até criar situações onde seja possível você elogiar alguém?

Alguém presente ou não na conversa.

Vamos tentar só pra ver o que acontece?

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