Uma das “qualidades” mais exaltadas a respeito do capitalismo diz respeito à promoção do indivíduo como peça única e de caráter extremamente individualista na construção da nossa sociedade. Essa falácia é vendida até mesmo como o principal contraponto ao “fantasma” do comunismo. Mas…
Enquanto exalta a personalidade individual como o maior bem a se defender o sistema esconde de você que é justamente por você sentir que é artigo único e totalmente personalizado que o sistema funciona como um todo. Este é um sistema que não pode fazer conjunto social simplesmente porque a sua essência é justamente a competição eterna e brutal entre todos os seus membros.
Este é um sistema de produção que está calcado numa base totalmente falida onde a demanda e a produção precisam ser infinitas e constantes. Trata a matéria como infinita num planeta que sabemos tem suas capacidades produtivas limitadas fisicamente. No momento em que a demanda dos produtos ou a nossa capacidade de extrair matérias primas acabar, o que vier primeiro, o sistema implode.
Para manter esse ciclo constante o sistema tem suas técnicas especiais. E acredite você é parte essencial para o funcionamento dessas técnicas.
Por isso temos a necessidade de uma constante exaltação à personalidade individual extremada, onde nos é vendida uma noção de importância ególatra que serve somente para justificar uma necessidade fabricada dentro de cada indivíduo por mais e mais poder de detenção e consumo de bens. Fabricam uma medida de status social onde não existe limite para a quantidade de bens que te fariam alcançar o patamar mais alto. E onde a cada patamar alcançado o ego é novamente provocado a buscar mais um degrau.
Mas nós todos sabemos que a vida é muito mais que isso e muito curta pra que seja somente isso.
O que acontece a partir dessa constatação é ainda pior: o sistema interpõe a essas considerações a necessidade de urgência para se conseguir todo esse destaque pessoal. Fica a cada dia mais visível que não teremos tempo de vida para realmente conseguirmos efetivar tudo o que a propaganda do consumo diz que devemos conseguir pra sermos alguém suficiente a ponto de ser notado.
Daí temos um combo todo específico de loucuras engarrafadas na medida pra acabar com nossa paz e nos fazer correr como um hamster em sua rodinha. A gente sente uma necessidade urgente de ter coisas que a propaganda diz que precisamos, uma necessidade urgente a ponto de não só vender nossas horas de vida pra alcançar esse ideal de ter para ser… Urgente a ponto de comprometermos nossas futuras horas de vida em empréstimos e financiamentos que nos prometem que teremos a possibilidade de mostrarmos o quão bons somos em ter agora coisas que levaríamos mais alguns anos para ter.
E isto é vendido como uma vantagem ainda.
Mas só é possível basicamente porque a propaganda sempre nos é vendida de modo a que estejamos sempre estabelecendo comparativos entre nossas vidas e a dos outros. E, inacreditavelmente, a propaganda faz isto parecer razoável.
Mas é ainda mais covarde porque a mesma propaganda que te promete destaque pessoal junto aos seus pares faz isso te mostrando um ideal exacerbado de consumo que está realmente fora da realidade. Um ideal que nem você nem seus pares conseguirão efetivar verdadeiramente.
Você provavelmente ainda não percebeu, mas o comparativo está sendo feito entre a sua vida e um ideal que é vendido como sendo o seu.
Agora você está pronto pra entrar na espiral em que o sistema te quer, onde você sente a obrigação de se mostrar sempre feliz e realizado para justificar essa sua opção tola por consumir para ser. E numa corrida que não tem fim você está pronto pra competir com o outro ser que também foi jogado nesse mesmo turbilhão.
O seu vazio interior contra o vazio interior de cada um dos seus semelhantes sendo ambos preenchidos por matérias a serem consumidas infinitamente num planeta de recursos sabidamente finitos.
A cada estágio você precisa parecer mais e mais feliz para que um sistema competitivo assim funcione numa sociedade. E para parecer feliz o seu ego foi treinado a mostrar a posse material superior a do seu próximo.
E o seu vazio interior aumenta na justa medida em que é alargado com a adição de cada uma das novas posses desnecessárias que te venderam. E te venderam te fazendo acreditar que isto te daria o acesso à famosa Escada para o Paraíso.
Para o sistema em si paradoxalmente você precisa parecer feliz na mesma medida em que precisa não ser efetivamente feliz. Você precisa ter necessidade de comprar pra mostrar que não tem mais a necessidade… Um arco de tolices que se emendam ao infinito.
Mas, se estamos imersos em uma cultura de consumo obrigatoriamente e não temos como impor nossa subjetividade contrariando essa cultura, o que poderíamos fazer?
Ao contrário dos coachs quânticos da vida nós não daremos fórmulas mágicas para refazer seu mindset. Faremos algo bem mais simples, vamos só dar nossa opinião.
Se o consumo é uma necessidade da qual você não vai conseguir se livrar só visualize um tipo de consumo que efetivamente vai te prover algum tipo de realização realmente pessoal: a compra de experiências ao invés da compra de objetos. Soa meio estranho, mas é possível.
Ao invés de trocar seu carro que ainda funciona perfeitamente bem que tal comprar uma viagem que vai satisfazer muito mais seus sentimentos e suas sensações de vivenciar a sua vida real? Que tal comprar algo etéreo que vai realmente servir exclusivamente pra você em seu sentido mais íntimo?
Tenha em mente que uma lembrança traz muito mais felicidade a longo prazo do que uma conquista material. Uma lembrança vai estar contigo ainda depois que você já mostrou para seus vizinhos e parentes que você pode trocar de carro pra manter a roda da economia triturando a ti e a teus semelhantes.
Uma lembrança vai estar contigo mesmo depois que você tenha trocado de carro dezenas de vezes ao longo dessa vida, vida que você está dando para o sistema em troca de breves momentos de satisfação ao conseguir obter o prêmio estipulado para cada patamar de conquistas que lhe é imposto por esse mesmo sistema. E imposto somente porque o mesmo precisa se retroalimentar dos sonhos que implantou no seu subconsciente.
Pensemos nisso e que a semana nos seja mais produtiva do que realmente nos interessa. E o sistema que se lasque!
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