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Política e arte: a mistura simples mais complicada que existe.

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Estamos vivendo uma fase de nossa vida em sociedade, tanto no Brasil quanto em vários outros países do mundo, que tem nos obrigado a tentar entender uma realidade muito importante para as nossas definições como seres humanos: a polarização política.

A política sempre foi uma atividade quotidiana que afeta todos os seres humanos em todas as sociedades que existem ou que já existiram e isso é um fato incontestável. Por mais que a gente conheça pessoas que insistam em dizer que se mantém totalmente à parte das discussões políticas o fato é que todos somos políticos pelo simples fato de estarmos convivendo em sociedade.

O ser humano faz política e faz arte desde que se deu conta de sua capacidade de criar abstracionismos. E pratica as duas atividades por uma necessidade quase atávica. Uma necessidade de organização das ideias dentro e fora de si mesmo, uma necessidade que transcende a vontade individual e vai acabar sempre encontrando um meio de expressão, indiferentemente de qualquer tentativa de legislação.

A arte é como a vida: ela sempre encontra um caminho.

E aqui é que entramos no trecho espinhoso do caminho. A polarização política mais extremada que vivemos costuma afetar um aspecto muito importante de nossas vidas quando estas duas atividades se cruzam. A radicalização de ideias se faz ainda mais intransigente quando se fala de arte e política como um conjunto.

A arte sempre foi um ato de coragem diante do mundo. Sim, explicamos. Um ato de coragem de todas as maneiras e em todas as roupagens porque a arte é um ato de desnudar o psíquico do ser humano que a produz, a arte é uma capacidade de expressar, para o bem ou para o mal, todo o complexo conjunto de sentimentos de que somos capazes. E trazer isso à tona é sim, sempre, um ato de coragem justamente porque a arte tem em si essa exigência de expor o seu produtor juntamente consigo, o produto.

No momento em que a arte se presta a expressar uma posição junto ao que foi politicamente estabelecido ela nos mostra sua face revolucionária ao ser veículo de contestação. E até mesmo se alinhando ao pensamento da situação governista ela também nos mostra seu poder ao emprestar validação ao sistema a que serve.

Ao longo de nossa construção histórica enquanto seres humanos a arte nos mostrou várias vezes faces diversas nesse jogo. Desde muito cedo líderes de pessoas já identificaram o poder da arte na política de dominação ideológica de seus cidadãos e de conquistados.

A criação e o uso identidades visuais tribais com todo o seu simbolismo nada mais é do que o uso da expressão artística em busca de um elemento de unidade para fins políticos. Como imaginar uma batalha primal entre o Clã do Corvo e o Clã do Javali sem a capacidade de desenhar/representar em suas bandeiras estas duas identidades para arregimentar partidários de sua causa?

Estadistas modernos ou antigos sempre souberam do peso que a arte tem como veículo de propagação de ideias e valores e, ora utilizando a seu favor, ora combatendo a existência da arte em seus domínios, sempre a valorizaram na construção de seus sistemas: algumas vezes como aliada e outras como adversária do seu projeto de poder.

O problema maior no tempo atual é que com o acirramento do “fechamento” das visões políticas em dois polos diametralmente opostos tende a qualificar a arte nessas únicas duas visões de mundo. Ou a arte expressa os valores do meu grupo e então é boa, ou a arte expressa o pensamento do grupo adversário e por isso é ruim.

Mas não existe arte boa, assim como não existe arte ruim.

A arte, como a vida, somente é.

Ela existiu, existe e continuará existindo enquanto a vida humana existir. E os padrões de grupos políticos jamais conseguiram domar um fenômeno que simplesmente é. Isso já foi tentado em muitas ocasiões várias e distintas e nunca foi conseguido.

Por isso o que sugerimos é a reflexão sobre o quanto a arte vai sempre ser presente. E como a arte, como fenômeno natural do produzir humano, jamais vai estar continuamente ou indefinidamente sujeita ao desejo de qualquer grupo.

Não existe arte boa e arte ruim, não existe arte que serve e arte que não serve.

Existe arte e só. Os usos distintos que dela se fazem aqui apontados são simples abusos caprichosos aos quais a submetemos no nosso fazer histórico.

Ela pode ser usada por alguns períodos, e isso já aconteceu, mas ela nunca será subserviente indefinidamente justamente porque assim como a vida a arte exige uma constante transformação em seu fazer e ser.

A arte se reveste de infinitas matizes em sua essência e nunca poderá ser designada como ferramenta exclusiva de uma vontade política. E é nossa obrigação enquanto humanos compreender que a necessidade de fazer arte é básica, intrínseca e fundamental para a construção e manutenção de qualquer grupo social.

O que o seu político profissional pensa sobre isso nunca vai ter poder de mudar isso. Aceite.

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