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Nossa vida é uma comédia. Sempre foi.

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A espetacularização de nossas vidas promovida pelos grandes canais de mídia está nos levando a viver uma autentica comédia de horrores, se é que podemos e sim, podemos cunhar um termo assim tão esdrúxulo.

Parece assustador quando dito assim de supetão, mas creia-nos; pode, deve e fica bem pior quando visto mais de perto. Não porque queiramos que isso seja assim, não porque queiramos causar sobressalto na sua vida aparentemente ordenada e regrada. É assim justamente porque alguém projetou para nós essa realidade.

A ideia de uma distração através dos espetáculos sempre foi o objetivo primordial de todo as obras de arte desde que se conhecem registros de eventos do tipo. A significância do evento está diretamente ligada ao maravilhoso poder de nos transportar de nossa realidade para vivenciar um momento mágico que nos alivie dos pesos do quotidiano.

No entanto, um fator mágico e inexplicado que somente nos retire de cena como num recurso “deus ex machina” quando este espetáculo não seja do nosso agrado na forma como fomos condicionados a aceita-lo jamais teria uma validade posterior a sua primeira exibição. Por isso os espetáculos passam a buscar serem significantes maiores nas nossas vidas na medida em que propõem alternativas variáveis, totalizantes e dominadoras ao quotidiano em que são exibidos.

Uma obra de arte expressa seu real e maior valor justamente na capacidade de transformar que ela carrega dentro de si e que, mesmo inadvertidamente para o observador, causa neste mesmo observador uma pausa de reflexão e/ou entendimento que lhe era exterior anteriormente.

E aqui é que entramos realmente no assunto, queira nos desculpar pelos volteios. É verdadeiramente assustador como a máquina de produzir demandas econômicas e psicológicas interligadas consegue subverter até mesmo nossa maior arma contra a estagnação espiritual e intelectual: a arte.

A arte foi cooptada pelos grandes veículos de mídia para se encaixar no mecanismo essencial ao consumismo exacerbado e necessário para o funcionamento da máquina/sistema e, a partir de sua instalação dentro de nossas individualidades, nos coletiviza e direciona justa e inequivocamente para a manutenção dessa roda de loucura onde o tédio é visto somente como algo realmente indesejável e digno de ser eliminado.

Não temos mais a liberdade de apreciar e avaliar conceitos mais profundos sobre nossa capacidade de sermos humanos de verdade, a nossa capacidade de apreender e incorporar conceitos ao nosso viver a partir de análises de obras que explorem mais profundamente o psiquismo humano.

Claro está já que o objetivo mais do que declarado é nos manter disponíveis para pagarmos por um período de diversão que nos alheie de qualquer destas atividades mais introspectivas que passam então a serem vendidas como pura e simplesmente tediosas. Empurram-nos obras artísticas para as quais nos condicionaram a custo de muita propaganda e persuasão.  E, ainda pior, nos condicionaram a exigir justamente esse alheamento narcisista e alienador quando pagamos pela diversão que vai nos oferecer isso.

E tudo porque queremos “aproveitar” bem o dinheiro e o tempo investidos na atividade de lazer que vai nos tirar da chatice e do tédio do quotidiano. O tédio que é o grande inimigo.

Para a mídia que se dispôs a nos manobrar para as finalidades que já descrevemos o tédio se apresenta como o grande inimigo a ser combatido. É o tédio que pode nos levar a ficar um tempo com a nossa própria consciência e acabar resvalando para um pensamento um pouco mais profundo e existencialista.

É o tédio que pode nos levar a abrir um livro que está jogado num canto da sala há mais de um ano. É o tédio que pode nos levar a querer ver um filme que fale sobre essa coisa mais intimista para a qual podemos resvalar se não estivermos devidamente assistidos pela grande mídia manobristas com suas diversões rápidas, fáceis e auto digeríveis com as quais nos bombardeia todos os dias.

Então, tome-lhe diversão a partir de arte supérflua para ocupar todo esse tempo e é aí que a comédia de nossas vidas descamba para o terror.

O terror de vivenciar, visualizar, contemplar, ouvir, sentir e viver sem filtros próprios. O horror de viver uma vida sem sequer parar pra pensar no porque de gostarmos ou não de um ritmo musical, de um tipo específico de filme, de um modo direcionado de vestir.

O horror de viver sem existir e morrer sem expressar nada de nosso realmente.

Claro que estamos todos nós aqui na luta, diuturnamente devotados a oferecer justamente este tipo de alternativa que não te vão mostrar facilmente. É claro que estaremos sempre aqui com uma pitadinha de provocação para a sua semana que se inicia.

Esperamos que você possa tirar um tempo agora pra explicar, somente pra si mesmo, em palavras claras e de bom som, o que realmente tanto te atrai nessa nova música que traz em si o carimbo de “Hit do Verão”. Se as suas palavras não te soarem desconexas e sem sentido você está onde queria estar. Você provavelmente irá aonde quer ir.

Cuidado. Ou parabéns! A depender…

Obrigado e boa semana para todos nós.

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