A ignorância sempre foi uma peça chave na determinação dos papeis sociais dos indivíduos dentro de uma coletividade. Mesmo o conhecimento, na maioria das situações do quotidiano, não consegue ter a força de impacto como definidor imediato destes papeis se comparado com o vigor com que a ignorância tem se apresentado.
Certamente porque o quotidiano sempre nos solicita uma catalogação rápida a respeito da informação que representa a inserção deste novo personagem e de suas atitudes na nossa convivência. Precisamos determinar rapidamente o que representa cada intercorrência no momento em que ela se apresenta na nossa vida. E, para o bem ou para o mal, os parâmetros para esta “catalogação” de seres e atitudes estão presentes na nossa personalidade e funcionam como um filtro natural para nos posicionarmos na relação com isto.
No entanto, isso tudo é notoriamente sabido, e é claro que sabemos. É aqui, no entanto, que entramos verdadeiramente no cerne do assunto que propomos para ser explorado: a ignorância arrogantemente orgulhosa de si.
Com o advento da atual realidade de informações amplamente disponíveis em quantidades e qualidades nunca antes sonhadas nos deparamos com um fenômeno que já foi definido por pensadores contemporâneos a nós como sendo a florescência da ignorância como modo de expressão pessoal. Os ignorantes sempre existiram, a internet somente deu voz a eles; você deve lembrar bem dessa fala.
O que pressupúnhamos como um paraíso de florescimento cultural e intelectual se revelou antes um festival de bobagens sem precedentes na história humana. Seja pela facilidade de obtenção de informações, seja pela oferta de informações truncadas, superficiais, simplistas ou mesmo, no atual momento das fake news que são projetadas exatamente para desinformar…
O fato que persiste é que realmente temos uma quantidade gigantesca de pessoas que parecem estar orgulhosas do tamanho de sua ignorância com relação a quase todos os assuntos.
Provavelmente este fenômeno estaria relacionado à facilidade provida pelas redes sociais de que os indivíduos se reúnam em grupos de interesses cada vez mais “nichados” e fechados em si mesmo, criando verdadeiras bolhas de relacionamento onde cada preconceito, por mais específico que seja, acaba encontrando validação quando as ideias são debatidas somente num regime de extrema concordância entre os pares. A fábrica de intolerâncias que tanto dano tem produzido.
A pessoa consegue validar assim o seu parco conhecimento sobre qualquer que seja o assunto em discussão e cristaliza cada vez mais suas certezas absurdas a respeito do assunto de seu interesse. E com esta validação extrema nasce o orgulho pelo domínio do que a pessoa acha que é um conhecimento seu e, que no fundo, não passa mesmo de somente mais uma grande ignorância sendo blindada e consagrada em grupos e vivências que não admitem o contraditório de maneira nenhuma.
E, novamente temos que dizer: sim tudo isso que foi falado é fácil de percebermos. Tudo isso já foi dito sobre essa questão. Mas…
O que queremos, como de costume, é propor uma consideração pessoal sobre o fato.
Filosofemos então; é muito mais interessante estarmos rodeados de pessoas que tenham muitas respostas para uma mesma pergunta do que estarmos na companhia de pessoas que têm uma mesma resposta para muitas perguntas.
Achamos que isso pode representar um bom filtro para incorporarmos em nossas vidas e no direcionamento que nossa mente tomará ao definir novas pessoas e situações do cotidiano que segue, inexoravelmente, nessa semana que iniciaremos.
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