Goiás está sendo palco de mais um filme que retrata, enriquece e dissemina a cultura do berço literário de nosso estado. As gravações do longa “Leodegária”, iniciaram na cidade no dia 03 de maio e vão até o dia 30 deste mês, sendo uma produção de Maison Du Cinema Rosa Berardo. De acordo com a diretora Vanessa Gouveia, “o filme retrata o período da adolescência de Leodegária Brazília de Jesus, poetisa de Goiás, na sua tentativa de entrada no Lyceu e como isso transformou sua vida”.

Leodegária de Jesus foi a primeira mulher a publicar um livro no estado de Goiás. Em 1906, aos 17 anos, lançou a obra Corôa de Lyrios, tornando-se uma pioneira na literatura goiana. Além de escritora, Leodegária foi professora, redatora de jornal e fundadora do semanário A Rosa, ao lado de outras intelectuais da época, como Cora Coralina. Sua trajetória é marcada pelo enfrentamento das barreiras sociais impostas às mulheres e pessoas negras no início do século XX.
Hoje, muitos são os esforços pelo resgate e reconhecimento do legado dessa mulher — símbolo de coragem, luta e resistência — e das inúmeras contribuições que sua vida teve e ainda ressoam na luta pela emancipação e valorização da voz feminina. Dentre as ações com esse propósito, o longa Leodegária se destaca como uma importante iniciativa de difusão da memória da obra e da figura dessa mulher que merece ser lembrada. Na sensível percepção de Elenízia da Mata, secretária municipal de Promoção de Políticas de Igualdade e Equidade Étnico-Racial, iniciativas como essa não apenas valorizam as mulheres, mas as potencializam. Para ela:
“Toda a iniciativa que traz a memória de Leodegária de Jesus é importante, visto que as narrativas que versam sobre a vida das pessoas negras em geral — mas, em especial, das mulheres negras — são minoritárias, ocupam ainda o rodapé das páginas oficiais da História. Então, ter um filme que diz sobre a vida de Leodegária de Jesus é de extrema importância para nós, mulheres negras, para nós, pessoas negras, para nós que moramos em Goiás e que temos a cultura como um material importante da nossa constituição como povo. Ter um filme sobre Leodegária potencializa e projeta Goiás para além das cercanias da Serra Dourada, com as quais nós estamos acostumados. Portanto, exalto esse trabalho. Eu já conheço o trabalho da professora Rosa Berardo, que já fez um outro vídeo sobre Leodegária — inclusive, está disponível. Agora ela traz esse longa dizendo sobre ela. Eu a parabenizo, vejo com bons olhos e estou ansiosa para conhecer esse material. Espero que tenha sido fidedigno e à altura da nossa matriarca primeira na inauguração dos textos feitos a punho feminino, a punho de mulher negra. Acredito nessa expectativa, porque a professora Rosa Berardo é uma mulher que faz cinema com sensibilidade, respeito e zelo. Além disso, conta com uma equipe majoritariamente formada por mulheres negras — e isso importa muito, porque potencializa e cuida da forma de dizer sobre Leodegária, sobre mulheres negras.
Acho que será muito bonito, muito positivo. Estou esperando com empolgação a chegada dessa obra.”
Sim, concordando com Elenízia, a expectativa é mesmo muito positiva. Podemos ver o potencial da obra pela história de sua personagem principal, pela estrutura das gravações e pela qualidade dos profissionais envolvidos — muitos deles, inclusive, são da cidade, como Rodrigo Santana, Marah Júllia, Guile Martins, Brisa Castro, entre tantos outros.
Tive o privilégio de conhecer e bater um papo com a diretora Vanessa Gouveia e com as simpaticíssimas maquiadoras Amanda Kuppens e Paloma Santos, em uma visita à ArteVida.

Para quem deseja acompanhar o processo de realização do longa, segue o Instagram oficial do filme:
@longaleodegaria https://www.instagram.com/longaleodegaria?igsh=MXdsZXNkdm92cmF6bg==
E, para aqueles que desejam conhecer a obra da poetisa, a Livraria Leodegária, localizada no Mercado Municipal de Goiás, por meio da Leodegária Publicações, relançou, após muitos anos, novas edições de seus livros Orchideas e Coroa de Lírios.

Parabéns à idealizadora do filme e a todos os profissionais envolvidos — e também a todos que têm se empenhado em manter viva a memória de Leodegária de Jesus. Deus abençoe, muito sucesso e que venha a estreia!
Por fim, deixo aqui um dos mais conhecidos poemas de nossa protagonista:
Símile
Ao Dr. Manuel Dias Prates dos Santos
Quando vivemos, a sonhar amores,
Quando não temos a ilusão perdida,
Quando noss’alma não padece dores,
Morrer é triste! Como é linda a vida!
Mas se nos fere o espinho da tristeza,
Se maltratados somos pela sorte,
Se nos é dado o cálix da incerteza,
Viver é triste! Como é doce a morte!
Texto por Maria Alexandrina
Foto da capa por Maria Alexandrina
Maria Alexandrina é responsável pela coluna “Literatura do Coração do Brasil”; ela é escritora, contadora de histórias; microempresária, proprietária da ArteVida.
Produtos Artesanais, Artísticos e Culturais; membro do Conselho Municipal de
Políticas Culturais (CMPC), ocupando a cadeira de literatura; integrante do coletivo de autores e autoras da cidade de Goiás.
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