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Análise do poema “Ciclos”- Coluna “Literatura do Coração do Brasil” por Maria Alexandrina

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Algumas pessoas me questionaram sobre o significado das imagens do poema “Ciclos”, na publicação do mês passado. Então, resolvi escrever aqui, não apenas o significado das imagens, mas também uma análise do poema

O poema fala de mudança, de transformação, de rompimento de ciclos. Comecemos pela primeira e segunda estrofes do poema.

Acordei decidida.

Tomei um suco que nunca antes.

Maçã e pitaia.

Ficou péssimo.

Acrescentei abacaxi.

Ficou bom.

Tomei.

Estou decidida.

Farei coisas novas.

Essa primeira estrofe pode parecer aleatória, mas não é. Uma mudança, uma transformação não precisa ser instantânea, ou mesmo grandiosa. Na verdade, acredito que a maioria não é. Por isso, um simples café da manhã diferente do habitual, é uma metáfora representando que a mudança pode começar com atos corriqueiros. Uma grande transformação deve se iniciar com a mudança de pequenos hábitos. Mas tudo começa com a decisão.

A terceira estrofe fala de ciclos.

Ciclo vai.

Ciclo vem.

Nem todo ciclo precisa ser eterno. Há ciclos que vão e há outros que vêm. Há ciclos que precisam ir, ou seja, que precisam ser rompidos. E há ciclos que se repetem, que não estão ao nosso alcance o poder de mudá-los, como, por exemplo, o ciclo da lua, o ciclo anual de doze meses, o ciclo semanal de sete dias. Porém a quarta estrofe traz que:

Dentro do que não muda,

pode, sim, haver mudança.

Isso quer dizer que, mesmo dentro de ciclos que não podemos mudar, ainda há algo que podemos fazer para haver a mudança de que precisamos. Assim, a primeira imagem representada no texto, ilustra essa ideia. Nela, dentro de um círculo, a primeira letra de cada mês do ano está posta em sentido horário, formando também um círculo. Dentro do círculo formado pelas letras, está a frase: “Dentro do que não muda, pode, sim, haver mudança”, também em círculo. Esta imagem, portanto, representa um ciclo que não podemos mudar, que é o ciclo anual formado por doze meses. Porém, dentro desse ciclo, a cada ano, temos a oportunidade de gerar mudanças, de fazer algo diferente dentro dele. Apesar de que os anos vêm e vão, invariavelmente, dentro dele, eu posso fazer algo diferente. Ainda, a imagem do ciclo anual, que não está ao nosso alcance o poder de mudá-lo, pode ser vista como uma metáfora de diversas situações ou pessoas que não podemos mudar, mas que ainda assim, pode haver mudança, se ela começar por nós mesmos, como será comentado adiante.  Além disso, as cores da imagem, verde e branco, são cores que representam o presente e o futuro, simbolizando que a transformação deve começar no agora e tem consequências no porvir.

Na sequência, a quinta e sexta estrofes trazem um acróstico da expressão “ANO NOVO”.

Abrir horizontes (a mente).

Não reclamar tanto.

Ousar.

 

Negar o ego.

Ouvir mais.

Viver com coragem e com propósito.

Olhar para o âmago.

 

Cada frase desse acróstico apresenta algumas ações que podem ser realizadas para que haja mudança dentro de um ciclo imutável que se inicia. “Abrir horizontes (a mente), revela a nossa responsabilidade pessoal em nos alimentarmos com novos aprendizados para pensar sob novas perspectivas. A mudança começa no pensamento. Uma mente fechada, que não se renova, inflexível, tende a viver na mesmice. Há um versículo Bíblico do qual eu gosto muito, que representa essa ideia: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12.2).

“Não reclamar tanto”. A reclamação, no sentido de murmuração, além de cansativa e irritante para quem a ouve, não gera mudança. É como se, reclamando, estivéssemos aceitando os fatos como eles são, como se não nos restasse outra alternativa a fazer. Está certo que, ora ou outra, deixamos escapar alguma reclamação, afinal, ninguém é de ferro. Porém, o hábito de reclamar, muitas vezes, é seguido de uma inércia, de uma isenção da nossa própria responsabilidade pela ação para mudar aquela situação. Por isso, ao invés de reclamar, transferindo a culpa para circunstâncias, para pessoas, para situações… se queremos ter mudanças, precisamos focar no que podemos fazer para que algo mude.

Já “ousar”, não há muito o que dizer. Apenas que, para que se conquiste uma transformação em algo, precisamos fazer algo novo, ousado, se arriscar em diferentes ações, e não repetir sempre as mesmas atitudes. 

“Negar o ego”. Essa é uma tarefa extremamente difícil. O ego refere-se à nossa personalidade, que é formada, desde a infância, e que controla o nosso comportamento. Negar o ego é negar o orgulho, e assumir o que somos, refletido em como nos comportamos. E é também, reconhecer que o que pensamos ser bom em nós, pode não ser. E ainda, que o temos de bom, pode, muitas vezes, nos atrapalhar. É estar em constante questionamento sobre nós mesmos e estar dispostos a reconhecer que nosso eu precisa, muitas vezes, de mudança. Para uns, essa tarefa é mais difícil que para outras. Pois a formação da personalidade, inclusive a que envolve a capacidade de reconhecer seus próprios erros e limitações, depende muito dos fatores ambientais em que a pessoa foi criada, especialmente na infância. Mas apesar de ter tido uma personalidade forjada por um ambiente extremamente difícil e prejudicial física e mentalmente, todo ser humano é dotado pela capacidade de fazer escolhas. E a escolha que envolve abandonar o orgulho e assumir os próprios erros, pode ser a mais difícil de se fazer. É também a que pode definir a transformação ou a constância do ser. 

“Ouvir mais”. De encontro à ideia de abrir a mente, o ato de ouvir é transformador. Ouvir tanto as vozes externas, uma opinião diferente, um conselho, a voz de Deus, quanto as vozes internas, do próprio eu. Aprender a ouvir a si mesmo, identificando seus sonhos, necessidades, medos, limitações, é fundamental para uma transformação de si e, então, das próprias ações que refletem na mudança das circunstâncias.

Viver com coragem e com propósito. Para atitudes ousadas e transformadoras é preciso ter coragem. Não perder, mas enfrentar o medo do novo. Mas, coragem e ousadia para quê? Para estarmos motivados a agir com coragem e ousadia, precisamos saber o que queremos, para onde vamos e para quê fazemos. Precisamos entender o nosso propósito. Muitos são os que se questionam sobre isso, inclusive eu. Particularmente, tenho buscado compreender o meu propósito em Deus. Uma das formas para a busca dessa compreensão, é “olhar para o âmago”. É concentrar-se na essência de tudo, de si mesmo e do que está à sua volta, da vida, do que faz. É olhar para si e reconhecer sua identidade, saber quem você é, para então, seguir com o que faz, sabendo porque o faz. 

A penúltima estrofe é uma chamada à responsabilidade pessoal para a mudança.

Nada muda se nada muda.

Transforme-se.

Acredite.

Ouse.

Nada vai mudar se eu tiver sempre a mesma atitude diante das mesmas situações. Ah, pobre de mim, que já fiz tanto isso! Tantas situações desagradáveis que já tentei mudar agindo sempre da mesma forma. Não funcionou, claro. Transformar-se, acreditar, ou seja, ter fé, e ousar, é assumir a responsabilidade por buscar novas estratégias de ação para que a mudança aconteça. 

Por fim,

Diante do que não muda,

pode haver mudança.

Ou seja, diante de situações que não mudam, pode haver mudança se ela começar por nós mesmos. A frase dessa última estrofe está na segunda imagem que acompanha o poema. Ela está dentro de um círculo, na parte externa do círculo formado pelas letras iniciais dos meses do ano. Nessa imagem, as letras estão ao contrário, e começa, não com a letra J, do primeiro mês do ano, mas com a letra D, do último mês, seguido das outras, em uma sequência ao contrário. Essa imagem tem o objetivo de representar algo imutável, o passado. Como o passado tem o poder de nos paralisar! No entanto, mesmo diante de traumas gerados no passado, que têm tanto poder sobre nós, e que nos impede de romper com certos ciclos prejudiciais, há possibilidades de mudança, pela renovação da nossa mente. Por isso, leia mais, faça terapia, faça cursos, vá a uma igreja, converse com Deus, viaje, dialogue com pessoas diferentes. Promova sua própria transformação e a da sua vida.

Um terno abraço,

Maria Alexandrina.

Maria Alexandrina é responsável pela coluna ”“Literatura do Coração do Brasil”; ela é escritora, contadora de histórias; microempresária, proprietária da ArteVida.
Produtos Artesanais, Artísticos e Culturais; membro do Conselho Municipal de
Políticas Culturais (CMPC), ocupando a cadeira de literatura; integrante do coletivo de autores e autoras da cidade de Goiás.

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