
Padre Denis, como o senhor avalia a sua trajetória nesses dez anos como Pároco da Paróquia de Santo Rita de Cássia, aqui na cidade de Goiás?
– Eu acredito que esse ano teve um sabor especial, a festa em si, porque exatamente no dia 16 nós iniciamos a nossa festa, e foi também aniversário de ordenação presbiteral. Dez anos que eu fui ordenado presbítero para estar na frente de uma comunidade, na frente de um rebanho, o qual o Senhor me chamou para ser o pastor.
E aqui eu estou, nesses dez anos, é uma alegria muito grande poder contar com a presença de todos. Desde o princípio eu fui muito bem acolhido nesta comunidade, e essa comunidade me abraçou. E aqui eu aprendi a ser padre, eu aprendi a ser pastor, aprendi a ser pai, a ser filho, aprendi a olhar com misericórdia todos aqueles e aquelas que buscava no sacramento da reconciliação o perdão dos seus pecados.
Então eu tenho uma gratidão muito forte por essa comunidade que tanto me acolheu bem, e aqui eu estou, nesses dez anos, até o dia que o Senhor me chamar para outra missão.
Padre Denis, quais foram os principais desafios e conquistas nesses dez anos?
– Quando eu chegava aqui nessa paróquia há dez anos atrás, eu ainda chegava diácono. E o meu medo é que saia um padre e chegava um diácono. Porém, isso não foi desafio, pelo contrário, a acolhida que eu tive aqui, que eu recebi, me fez sentir parte dessa comunidade, a qual até hoje estou.
E outro grande desafio para mim como pastor desse rebanho foi a pandemia, a Covid. O dia que eu percebi que um domingo eu não podia celebrar a Eucaristia, que as portas dessa igreja estavam fechadas. Naquele dia foi um desafio e uma dor muito grande, porque não tem pastor sem rebanho. E ali eu não podia estar do lado do rebanho a mim confiado. Então esse foi, para mim, o pior de todos os desafios nesse dez anos, a chamada Covid-19.
Quais iniciativas pastorais e sociais o senhor destaca nesse período?
– As atividades pastorais de uma paróquia, ela vai além de um assistencialismo. Acredito que a palavra, quando anunciada, ela toca os corações e faz com que nós sintamos a responsabilidade, a necessidade de assumir verdadeiramente a nossa fé. E aí eu destaco algo importante, quando São Paulo, ele anuncia verdadeiramente que para ser salvo precisava ter fé.
E isso é o que nos move até hoje, a fé. Porém, depois São Tiago vai nos escrever que a fé sem obra, ela é uma fé morta. Então que as atividades pastorais dessa comunidade possam incentivar não só a igreja, mas de todo o conjunto, o corpo mítico dessa igreja, que são as pessoas que elas possam assumir a sua responsabilidade e assim fazer acontecer.
E eu acredito que isso tenha acontecido nessa paróquia. Nós percebemos por diversas vezes o quanto as pessoas são preocupadas para ajudar, sobretudo aquelas mais carentes e que necessitam. E esse é um trabalho que a igreja aponta os caminhos e que assim as pessoas vão contribuindo para que isso aconteça da melhor forma possível.
Como a comunidade paroquial evoluiu nessa década, principalmente no engajamento de fiéis?
– Nós percebemos que hoje, talvez a paróquia Santa Rita de Cáceres é a paróquia mais numerosa e a igreja que mais agrega pessoas. Talvez a gente pode parar e pensar assim, poxa, mas nós temos a Catedral, nós temos a Igreja do Rosário, que sempre tem um marco da fé do nosso povo. E eu costumo dizer sempre que a Catedral de Sant’Anna é a nossa Igreja Mãe.
É a igreja cujo ali está o nosso príncipe e a igreja que é o centro da fé deste centro-oeste em Goiânia. Ali tudo começou, nessa diocese, nessa casa. Depois a cidade foi crescendo e aí surgiu então o bairro João Francisco, que hoje esse bairro é o bairro mais populoso.
Isso tem um grande peso para que a nossa paróquia tenha tantos fiéis como hoje nós temos. Nós percebemos que a igreja hoje já é pequena para o número de fiéis, porém aqui nós temos o povo. o João Francisco hoje é o centro comercial e tudo está aqui. Então com isso as pessoas estão aqui no entorno e elas buscam a sua fé e agregam valores aqui. Por isso que acredito que nós temos esse crescimento. Essa comunidade sempre, desde a época em que as irmãs carlistas estiveram aqui, elas sempre abraçaram as pessoas carentes, abraçou todos aqueles que precisavam.
E eu acredito que até hoje tem essa marca de uma igreja que acolhe, uma igreja mãe e isso tem um significado grande na vida das pessoas. Então acredito que isso e esses dez anos, essa década é marcada por isso, por um povo que verdadeiramente assume a sua fé e vive diante desse altar, aos pés de Santa Rita de Cássia, a sua fé com autenticidade.
Nesses dez anos, o senhor destaca um ponto importante, um marcante desse serviço?
– Sem sombra de dúvida, o ponto mais marcante na minha vida, e isso acredito que não será só nesses dez anos, mas para a minha vida inteira, foi realmente quando eu testei positivo para a Covid. E depois daquilo, toda a doença, os 30 dias de UTI, em que eu estive longe dessa comunidade, mas a comunidade continuou. A comunidade continuou reunindo, continuou rezando. Quando a minha boca fecha no leito de uma UTI, a boca dessa comunidade abriu, rogando a Deus a cura do seu pastor.
E ali o Senhor, por intercessão de Santa Rita de Cássia, então eu fui curado, estou aqui mesmo depois de sair daquela UTI, fragilizado, sem movimentar, e o Senhor me restaurou, e aqui estou. Então este é um ponto muito marcante. Esse povo, essas ovelhas, cujo eu sou pastor, estiveram aqui. Mesmo quando eu estava distante, a igreja continuou sendo a igreja. Isso marca verdadeiramente a essência de um povo em que busca, não somente a presença do Padre, mas em que eles encontraram Jesus Cristo e que mesmo eu não estando, eles estavam, e celebrou a vida. E esse povo esperou a minha volta e assumiram de forma imprescindível esta casa, amando e acolhendo.
Eu não sabia que eu era muito amado aqui, mas diante de tudo que eu experimentei com a doença, realmente eu tive a certeza que esse povo me abraçou, e isso me faz ser cada dia mais, tentar ser melhor, não melhor do que ninguém, mas ser melhor para todos aqueles que aqui chegam.
Higor César Ferreira- Repórter e editor do Jornal Imprensa Criativa cidade de Goiás
Fotos- Rosy Braga
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