Há um tempo ouço essa voz que fala, cada vez mais alto, em minha mente:
— Vai, filha, escreva!
Acho que ela sempre esteve ali, falando, falando, mas nem sempre eu soube de sua
existência. Ela dizia mais baixo, ou profundo demais para eu ter a consciência de
ouví-la. Mas um dia eu ouvi, claramente. E a ouço desde então. Só que tem também
uma outra voz. Uma voz sutil, que também fala. Esta outra, diz coisas contrárias,
para me impedir de escrever. Eu demorei mais para perceber sua existência. Mas
ela também sempre esteve ali. Ela sussurrava tão baixinho, como que de propósito,
para que eu não a percebesse, e pudesse agir, de mansinho, de uma forma
enganadora. Sim, essa voz tem me enganado há algum tempo. Porém eu não tinha
como lutar contra ela, pois nem sabia que ela existia. Apesar de sussurrar bem
baixinho, tinha uma força potente sobre mim. Mas agora eu sei. E ela que fique
esperta, pois estou atenta às suas mentiras e sutilezas. Como eu descobri? Foi uma
outra voz, imagino eu, que também vivia nas profundezas, junto com a enganadora,
que talvez tenha ficado com pena de mim, e arrumou um jeito de me contar. Fato é
que agora sei e lutarei contra ela. Estou bem atenta. E preciso mesmo estar, pois,
como já disse, ela é sutil. Tanto, que diz muitas coisas que eu não consigo decifrar o
que é, mas que tem tido força suficiente para, muitas vezes, me parar, e prevalecer
sobre a voz que diz:
— Vai, filha, escreva!
Mas agora, que sei da sua existência, ainda que eu não saiba tudo o que ela está
dizendo, eu estou, e estarei atenta. Estou procurando, como uma detetive, todos os
indícios que me levem a descobrir o que ela tem dito. Eles estão aparecendo e eu
estou conseguindo, aos poucos, lutar contra ela.
Quando o Higor me convidou para fazer parte do time da Imprensa Criativa, com
uma coluna em que eu pudesse escrever sobre literatura goiana, ou sobre meus
livros e meus projetos, eu disse:
— Olha, que interessante!
Mas aquela voz negativa tentou dizer outras coisas. E como sua existência já não
me é mais oculta, eu consegui ouvir bem. Pude ouvir claramente quando ela disse:
— Você vai escrever sobre o quê? Tem algo de interessante, por acaso?
Ah, mas eu logo respondi, sem titubear:
— Tenho muito, muito mesmo, a escrever! E são, sim, interessantes. E ponto final.
Mas, insolente como é, sem respeitar meu ponto final, ela continuou dizendo:
— Mas isso pode te atrapalhar com seus outros projetos, você já tem tanto o que
fazer, e nem está conseguindo colocar em ordem e realizar o que já começou.
Com essa, ela quase me convenceu. Mas respondi:
— Como poderia me atrapalhar, se vai de encontro ao meu propósito de seguir a
voz que me diz, “vai, filha, escreva!” ?!
Então, respondi ao Higor que eu aceitava. Mas confesso que depois fiquei
pensando se aquela vozinha irritante, não tinha razão. No mesmo dia, uma ajuda
veio, para desmascarar, de vez, a intrometida. Caminhando pelos estandes de livros
da Flip, que estive esse mês (quando o Higor me convidou, eu estava no evento), o
livreiro me indicou um livro. Li as primeiras páginas e comprei. No prefácio, uma
mãe de três, como eu, disse que nem ela mesma sabia como arranjava tempo para
escrever, com tantos afazeres que demandam a maternidade, o matrimônio, o
trabalho. Mas ela disse que escrevia nas brechas. Foi mais uma voz que soou aos
meus ouvidos contra aquela outra voz que tenta me paralisar. Apesar dos muitos
afazeres que ainda tenho — trabalho, projetos, ideias mil — meus filhos já
cresceram, são adolescentes, me ajudam muito, assim como meu marido, hoje, eu
tenho muito mais brechas!
Então, aqui estou. Mas, do que escrever, sendo a literatura goiana um universo tão
vasto?
— Então, se puder ser referente à literatura infantil, me sinto mais preparada, pois é
com o que mais tenho me envolvido ultimamente. — eu disse ao Higor.
— Sim, fique à vontade! — ele respondeu.
À vontade pois, ficarei.
Só que depois desse diálogo, refletindo sobre a temática dessa coluna, tantos
assuntos e possibilidades me vieram à mente. Há tanta coisa relacionada à
literatura acontecendo em nossa cidade. Há tanto para dizer, não apenas de meus
projetos com a literatura infantil, mas também de tantos escritores nos recônditos de
nossa cidade, de nosso estado. Nesse sentido, proponho para essa coluna, abordagens relacionadas, não apenas aos meus projetos com a literatura infantil,
mas também às multiplicidades que envolvem os escritores goianos e tantos
projetos que acontecem em nosso meio. Teremos artigos, crônicas, poesias, contos
e o que mais vier a surgir. A propósito, conto com você, leitor (a), para deixar
conosco sua sugestão sobre o que gostaria de ver por aqui. Para isso, pode entrar
em contato comigo ou com a Imprensa Criativa.
Agradeço muito o espaço de fala, por meio da escrita, que me é confiado. Espero,
profundamente, colocar aqui palavras que possam ecoar aos ouvidos de cada leitor
(a) e despertar sentimentos, emoções, reflexões… que possam, de fato, contribuir,
de alguma forma, para uma existência mais sensível e humana nessa nossa
jornada, nesse tempo e nesse espaço que temos para viver. Pois é um dos efeitos
que acredito e que defendo sobre a capacidade que a literatura tem, o de tornar as
pessoas mais sensíveis e mais humanas.
Enfim, o objetivo desse primeiro texto dessa coluna foi apresentar a proposta do que
teremos por vir. E já aproveito para apresentar os assuntos do próximo mês:
“Cidade de Goiás, Cidade Literária.
Goiás, Cidade Criativa da Literatura — Título a ser pleiteado junto à UNESCO.
Ambos os projetos, propostos pela secretária de cultura, Goiandira Ortiz.”
Mais uma vez, obrigada! Nos encontraremos na próxima edição.
Texto e foto por Maria Alexandrina de Castro
Maria Alexandrina é responsável pela coluna ”“Literatura do Coração do Brasil”; ela é contadora de histórias; microempresária, proprietária da ArteVida
Produtos Artesanais, Artísticos e Culturais; membro do Conselho Municipal de
Políticas Culturais (CMPC), ocupando a cadeira de literatura; integrante do coletivo de autores e autoras da cidade de Goiás.
Apresentação
Maria Alexandrina de Castro é natural de Goiânia, viveu no setor Garavelo Park, em
Aparecida de Goiânia, desde os seis anos de idade até os vinte e um, quando, em 2002,
mudou-se para a cidade de Goiás, onde vive atualmente, tendo recebido, em 2024, o Título de
Cidadania Vilaboense, como reconhecimento pelos relevantes serviços prestados ao
município de Goiás, indicado pela vereadora Elenízia da Mata. Na vida pessoal, é esposa,
mãe de três, duas filhas e um filho, e ama estar junto à natureza. Na área acadêmica, em
2005, graduou-se na faculdade de Letras, na UEG-UNU: Cora Coralina; em Pedagogia, em
2021, pela Universidade Cruzeiro do Sul; e possui Especialização em Ensino Interdisciplinar
sobre Infância e Direitos Humanos, pela UFG, Regional Catalão, concluído em 2019, com
monografia sobre a temática que defende a literatura infantil e seu efeito humanizador. No
universo da literatura, é escritora, com três títulos infantis publicados; contadora de histórias
desde 2004, idealizadora do grupo Historiando; realiza declamações de poesias desde 2002,
tendo iniciado como integrante do Grupo “Versiprosa”, projeto de extensão da faculdade de
Letras, sob direção do professor Leosmar; também atua com projetos interdisciplinares que
envolve a literatura, como a “Oficina O Presente: conhecer, amar e preservar o Cerrado”, e o
projeto antibullying “Eu sou o que sou, ou o que dizem que sou?”; é membro do Conselho
Municipal de Políticas Culturais (CMPC), ocupando a cadeira de literatura; e integrante do
coletivo de autores e autoras da cidade de Goiás. Trabalha também como microempresária,
sendo proprietária da ArteVida Produtos Artesanais, Artísticos e Culturais, com uma loja
física, desde 2004, de doces, artesanatos e lembranças turísticas, situada na Praça do Coreto.
Junto à empresa, também atua como produtora cultural de seus projetos literários, com alguns
aprovados por editais de cultura. Atualmente tem desenvolvido um projeto que une a
literatura vilaboense à cerâmica tradicional da cidade de Goiás. Além disso, uma outra
atividade que realiza com muito apreço, desde 2013, é na Célula de Crianças, projeto da
Igreja de Cristo, da qual é membro, com ministrações e contação de histórias bíblicas.
Instagram: https://www.instagram.com/historiando.ale
YouTube: http://www.youtube.com/c/HistoriandoMariaAlexandrina
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