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  Octo Marques: Talento, modéstia- O olhar de um grande Mestre

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“Conheço e admiro, de longa data esse pintor vilaboense que se chama Octo Outuniro Marques, cuja ternura pela sua cidade natal e vetusta Goiás se desdobra em seus contos, artigos e crônicas, seus óleos, aquarelas e xilogravuras. Bom e simples, desambicioso e culto, dono de estilo personalíssimo …  A pintura de Octo Marques, sem virtualismo ou requintes, é água cristalina, incontaminada, sem tecnicismo, fugindo aos  padrões das escolas, jogando apenas com seu instinto altamente artístico e inspiração profunda, na interpretação de intenso sentimento … Vendo os seus quadros, entende-se-lhe a alma, enxerga-se a lendária Vila Boa de Goiás … “

  Octo Marques: Talento, modéstia- O olhar de um grande Mestre

        Apresentar Octo Marques através desta visão poética do estimado jornalista Goiás do Couto, transcrita nos Dados Biográficos de “Casos e Lendas de Vila Boa”, primeiro livro de Octo, é doce melodia… Sim, acredito que reviver Octo, é rever o passado, é caminhar pela rua Cambaúba e transitar entre os burrinhos de carga e as carregadeiras de água. É ouvir na voz do menino, a cantiga do bolo de arroz, pelas saborosas manhãs da antiga capital. É ver o casal de pássaros que paira tranquilamente sobre a sua, a nossa, “Cidade Mãe”, entre os becos, ruas, praças e quintais. É também contemplar as belezas e mistérios da Serra Dourada, despojar o tesouro do morro Canta Galo e recriar as lavadeiras no Rio Vermelho… é repensar o presente e nortear o futuro.
      Nosso estimado artista vilaboense, nasceu no dia 08 de outubro de 1915, na Cidade de Goiás ( antiga Vila Boa, então capital do Estado de Goiás). Vem daí, o ímpar sobrenome Outuniro, referindo-se ao seu mês de nascimento e Graúdo era o seu afetivo apelido de infância. Há 33 anos, precisamente no dia 22 de abril de 1988, Goiás se despedia de um de seus maiores representantes das artes. Um autêntico filho da terra, no sentido mais próprio da palavra. Era talentoso, humilde e bom, despido de preconceitos, maldades, invejas e outros similares; mas se revestia de bondade e pureza ( talvez até daí, os oportunos “tapinhas” nas costas recebidos, e pouca ajuda prática ou reconhecimento). Sua produção era o retrato de sua pura inspiração maior: o cotidiano de sua amada cidade, seu povo simples, suas lendas e costumes, sua arquitetura colonial e paisagem natural. Dividiu assim com o mundo, seu universo, fragmentos que compõem sua imensa “Colcha de Retalhos”.
       Ao relembrar as palavras do produtor e apresentador Nelson Figueiredo, no dia 16/07/82, em seu programa “Ponto de Vista” na Rádio Cidade de Goiás, percebemos que as mesmas ainda podem ser bem atuais. Abordou ele o tema: “Quem se lembra Octo?”, em parte ele disse: ” (…) Prezado Octo Outuniro Marques, este programa deseja e quer que todos que o querem bem, lhe queiram mais. Que todo o seu grande e inigualável trabalho, que é fruto de toda sua existência dedicada às tintas, ao ato maravilhoso da criação, seja reconhecido e valorizado. Mas sabemos que, independente de tudo isso, você continuará simples e bom. Talentoso e humilde. Modesto e grande. Consagrado e esquecido… Esta é a sina dos grandes, Octo. Esta é a maldição dos criadores de todas as épocas: A incompreensão de seu tempo.”
     Sim, ainda hoje precisamos que este grande homem seja lembrado, lembrado por todos os seus feitos talentosos, por seu amor e total dedicação à sua terra querida, pelo seu legado de valor inestimável. Sim, pelo muito que representa para a cultura plástica e literária!
    Certa vez, disse Octo em uma entrevista, que ser artista, tinha e não tinha valido a pena. Sobre esta fala, concluo este artigo, relembrando algumas palavras do escritor Brasigóis Felício (Caderno 2 de O Popular, abril de 1988), em sua matéria intitulada “Octo Marques, agora e sempre”, disse ele: ” ( …) Valeu, sim, Octo, porque você deu uma lição de dignidade artística que muitos – a maioria de nós – não soubemos entender. Talvez porque vivemos em uma época cínica e pouco propensa a reconhecer o talento e a dignidade, onde quer que ela se encontre. Morrendo pobre, apesar da riqueza de sua alma e de sua inteligência, Octo Marques deixou-nos um legado de que talvez nem cheguemos a ser dignos. Em todo caso, quando formos capazes de fruir e entender a sua grande arte, teremos, enfim, a chance de compreender o quão rico, bom e generoso foi este homem que na pacata Goiás, atendia pelo nome de Octo Marques. Sim, um homem a se admirar! ” .  Certamente, Octo Outuniro Marques, ou simplesmente Octo Marques, realmente é, um homem a se admirar. Nossa eterna gratidão, por nos mostrar esta Cidade Mãe, em especial, com os olhos do coração.
Texto: Marly Mendanha – Licenciada em Letras pela Faculdade de Filosofia “Cora Coralina”, Pós-Graduada em Língua Portuguesa, Artista Plástica e Documentarista.
Cidade de Goiás – Goiás – Brasil
Pintura: Octo Marques

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