No amálgama da arte Goiana transitam diversas técnicas e estilos, em uma pluralidade formal, no qual se consubstanciam entre nós um momento importante de afirmação e maturidade da arte local, no tocante ao panorama da arte brasileira.
Desde a década de 70, onde podemos divisar um período de gestação e consolidação de uma prolífica e valorosa produção artística em nossa região, no qual Mato Grosso e Goiás são Estados protagonistas nesse contexto, que guardaram e guardam uma parcela de ordem identitária tautològica no que se refere a produção artística nacional, e de incontestável peculiaridades no que se costuma referendar uma decantada (possível) brasilidade formal e por conseguinte conceitual que se procuraria em uma arte genuinamente brasileira.
Isso é perfeitamente possível de comprovação, em minha modesta forma de ver e pensar o contexto da arte nacional.
Talvez por estarmos situado no Planalto Central brasileiro, um dos “portais” que permitem uma certa refração e distância da massiva produção artística de centros que outrora já foram artisticamente hegemônicos, principalmente o Estado de São Paulo, onde a Bienal internacional de Artes Visuais criada em 1951 por Francisco Matarazzo Sobrinho (1892 – 1977) é um contraponto, uma imponente vitrine, uma porta de entrada das correntes artísticas internacionais alienígenas à nossa produção local – E aqui eu abro um parêntese para observar que a Bienal, que em tempos áureos, já foi considerada a terceira maior exposição de arte do planeta, poderia (e ainda pode, pois ela continua viva e atuante) ter um papel mais pró-ativo no sentido de promover um maior trânsito intercambial de exportação da arte brasileira em uma proporção identitária de teor relativo à brasilidade, e até uma maior quantidade numérica dos nossos produtos do gênero, tendo assim uma maior paridade com o fluxo estética que a mesma introduz no país. Porque não? Os paises ricos praticam isso dentro e fora de suas fronteiras. Um pouco de prática “bairrista” e autofágica pode ser importante para auxiliar a formação de uma consciência mais clara de quem somos. Divagei? Talvez, mas sou brasileiro, acho que arte é linguagem universal e sua fertilidade, na essência independe da geopolítica que muitas das vezes são segregadoras.
E, voltando para Goiás, onde temos um leque de grande artistas plásticos, ente eles o Manoel Santos um dos mais autênticos pintores representantes da pintura local. Fruto da chamada geração 80, ou a terceira “safra” da arte moderna e contemporânea de Goiás.
Se quisemos classificar o seu gênero de pintura, ele se encaixa na arte naif, que, no seu caso, tem uma aproximação muito feliz com as fábulas da literatura, e nota-se que ele faz uma deliciosa “literatura” iconográfica. Conta histórias com seu fantasioso pincel.
Ele criou um vocabulário inconfundível na pintura nacional em seus 40 anos de vida pictórica.
Em sua pintura o homem não tem espaço, jamais teve sua presença tóxica, ao invés disso, os animais se travestem de seres humanos e realizam as tarefas mais diversas como se humanos fossem.
A pintura de Manoel Santos ao primeiro olhar parecem apenas lúdicas, flertam com a infância de cada um de nós com lirismo singular. Mas não nos enganemos, ela é uma crítica mordaz aos seres humanos que as vezes são incapazes de perceber a importância de se preservar o ecossistema. Só temos esse planeta, por enquanto.🙏
Ao humanizar os animais, ele desnuda a condição animalesca do humano, quando esse não se compreende como parte indissociável da meio ambiente. É sem dúvida uma pintura que marca presença na arte goiana contemporânea e se projeta para fazer a história de seu autor como um apaixonado pelo ofício da pintura.
Abraço fraterno Manuel Santos.
Nonatto Coelho.
Artista e pesquisador.
Inhumas 16 de outubro de 2022
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